A cidade precisa de melhorias urgentes que poderão vir através de ações de efeito imediato, através do aumento da produtividade dos corredores de ônibus. São medidas de amplo conhecimento dos nossos planejadores de transporte, implantadas em outras cidades e que compreendem ações que envolvem: operação, gestão das linhas, tarifação e pequenas obras. Foram realizadas algumas investidas neste sentido, todavia os resultados foram pequenos ganhos de velocidade e que se perderam em pouco tempo.
A questão parece simples, mas é menos óbvia e mais complexa do que parece. Os obstáculos não se restringem às dificuldades técnicas das ações propriamente ditas, mas envolvem interesses, assim como conceitos arraigados no setor dos transportes e que exigem mudanças de paradigmas e de atitude de quem irá implantá-las.
Estamos falando da necessidade de superar obstáculos de origem cultural, refletidos nas práticas operacionais dos transportes. Vejamos alguns fatos:
- É incompreensível que em quatro corredores de ônibus de São Paulo foram executadas faixas de ultrapassagem para ônibus pela Prefeitura, inclusive com pavimento de concreto, e que estão sendo usadas pelo tráfego geral em prejuízo dos ônibus;
- Também difícil de compreender a falta de programação do equipamento semafórico da cidade para permitir prioridade ao corredor de ônibus, bem como para o controle operacional de faixas de ultrapassagem de ônibus, onde elas não existem fisicamente;
- Ainda, é imprescindível, como ação, a racionalização das linhas estruturais e a criação de linhas semi-expressas e expressas, de acordo com a demanda. Faltam em todos os corredores pequenas obras. Há necessidade de serem feitas correções de alinhamento, ajustes de plataformas de embarque e viadutos exclusivos para tráfego de ônibus nas interseções críticas.
Estes exemplos foram citados para lembrar que a implantação das ações encontram reações tanto de setores internos quanto externos à administração. Muitas tentativas, já implantadas com vistas ao aumento da velocidade dos ônibus não surtiram grandes efeitos, pois foram muito influenciadas por operações de trânsito, enfocadas na fluidez do tráfego de automóveis.
Parece elementar, mas cabe ser lembrado que todos os envolvidos com a implantação das ações para aumento da produtividade dos corredores de ônibus precisam estar comprometidos com a diretriz da lei de Mobilidade Urbana: Transporte público coletivo tem prioridade sobre o transporte individual motorizado.
A implantação dessas ações imediatas não será uma tarefa simples, tampouco insuperável. Trata-se de um desafio com vantagens evidentes para a população. Como subproduto dessa ação de envergadura social, o aumento da produtividade dos corredores de ônibus poderá resultar em redução do número de veículos em operação e, consequentemente, do custo do sistema como um todo. Cabe à administração pública esclarecer a população, definir as ações imediatas, limpar o terreno e assumir o desafio de implantar a modernização do sistema. Que já tarda!
Ivan Metran Whately – Consultor de Planejamento de Transporte; Coordenador da Divisão de Transporte Metropolitano do Instituto de Engenharia.
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Fonte: ANTP