Os ônibus estão presentes na paisagem urbana e no dia a dia de todos os cidadãos, inclusive daqueles que não fazem uso do transporte coletivo, mas veem os veículos circulando para toda a parte.
São Paulo tem hoje a maior frota de ônibus da América Latina com quase 15 mil coletivos municipais, isso sem levar em conta os ônibus da EMTU, que vêm de outras cidades da Grande São Paulo, os rodoviários e os de fretamento.
Décadas passadas, obviamente que esse número não era tão grande, mas a frota de ônibus já era considerável para atender a demanda de uma cidade que crescia no ritmo bem característico de uma metrópole.
Uma das características desta frota até pelo menos 1991, quando começou haver a padronização das pinturas com a “municipalização” dos serviços pela prefeita Luíza Erundina, era que os ônibus tinham cores variadas que indicavam a identidade das empresas e as regiões atendidas. Em 1978, com Olavo Setúbal a frente da prefeitura, foi criada uma reorganização dos transportes. Iniciava assim a era do “saia e blusa”: a saia, parte inferior da lataria, indicava a região atendida e a blusa, acima da altura das rodas, tinha pintura opcional da empresa.
As cores dos ônibus estão presentes na memória de muitos moradores da cidade, como de Sérgio Slak, que participou do “Conte Sua História de São Paulo”, do jornalista Milton Jung.
Milton Jung, um apaixonado pela história da cidade e, com isso, grande incentivador da memória dos transportes, compartilhou este texto conosco, além do áudio com sua narração dos relatos de Sérgio.
Confira, esta viagem vale a pena:
Nasci na Vila Prudente, há 59 anos, e morei até os sete anos na Vila Ema, tudo na zona Leste. Com o falecimento do meu pai mudamos para a casa dos meus avós em Moema, na zona Oeste. Em frente de casa, tinha o ponto inicial da linha 670 – Moema – Praça da República, da Viação Moema. Eram ônibus nas cores vermelha, verde e branca. Lá perto tinha, também, o ponto inicial da linha 77 Vila Uberabinha-Rodoviária, da Viação Caribe. Eram amarelo, vermelho e branco.
Comecei ali meu fascínio pelos ônibus. E o que me encantava é que havia muitas empresas e cada uma com suas cores. Algumas com apenas uma linha. Por exemplo, achava maravilhosos os ônibus da Viação Útil, que faziam a linha Barra Funda – Bosque da Saúde, nas cores azul e cinza. Tinha a imagem de um cachorro atravessando o número 969.
É claro que existiam as empresas com mais linhas de ônibus, como a Bola Branca que tinha as cores branco e vermelho. Não podemos nos esquecer do azul e bege da CMTC. Lá na gestão do prefeito Jânio Quadros, havia os Vermelinhos e os Fofões de dois andares.
Adorava olhar aqueles ônibus circulando, numa festa de cores e estilos de pintura.
O cenário passou a mudar no fim da década de 1970 quando criaram os consórcios de empresas de ônibus, as menores foram compradas. Na gestão da prefeita Luisa Erundina ocorreu a municipalização e todos os ônibus passaram a ter as cores branca e vermelha. Na de Marta, criaram-se oito consórcios e aí ficaram apenas oito cores em toda a cidade.
“Fofão” da CMTC. Os ônibus de dois andares da era Jânio Quadros
O transporte público evolui muito. Temos bilhete único, corredores, terminais, veículos articulados, biarticulados, com ar-condicionado e até wi-fi. Mas sinto uma saudade danada daquelas cores rodando por São Paulo.
Quando estou em um ponto, fecho os olhos e imagino que o ônibus que está chegando traz a marca da CMTC ou o colorido de algumas das velhas empresas.
Fonte: Diário do Transporte
Imagem: Bigstock by dabldy